A re-reinauguração do Theatro da Paz (ad eternum)

O Theatro da Paz, em Belém, é um dos principais teatros-monumentos do Brasil e, tombado pelo IPHAN, DPHAC e DEPH (entenda-se, as três esferas de proteção: nacional, estadual e municipal). Pouco que aconteça nele, desde uma cadeira com palhinha furada ou uma lâmpada queimada passa despercebido. O que é apontado como desleixo pelos que utilizam-se do espaço, é chamado de rotina de manutenção pelos que mantém o Theatro: sim, lâmpadas queimam e todo lugar, cadeiras de palhinha são frágeis e exigem substituição constante, mas nem sempre, considerando ser um teatro estadual, os recursos ou meios tem repasse imediato. E nem por isso devemos construir fossos com jacarés ou algo assim para protegê-lo!
Assim, o que tornou-se uma rotina de reinaugurações por bobagens, foi tratado, desde a queda de parte do forro de estuque do átrio como uma necessidade de avaliação da situação geral do edifício: sim, haveria a necessidade de um novo fechamento e de uma reinauguração daquela casa de espetáculos (coisa muito agradável aos políticos), mas que a coisa fosse feita de forma coerente desta feita.
Numa terra onde levantamentos preliminares de danos e as-builts desaparecem de gestão em gestão, a opção por se fazer uma caracterização geral do Theatro levantou questões sérias, especialmente por consequência de intervenções anteriores, como o uso das linhas do telhado como esteio para equipamentos de climatização, iluminação e outros, o que provocou deslocamentos em quase toda a cobertura. Juntamente com a recuperação do estuque do forro do átrio, grande esforço da obra de 2010 visou aliviar esta sobrecarga, com a instalação complicada de uma estrutura metálica para aliviar a carga do grande lustre sobre a platéia. Entre a urgência de fazer com que o Theatro não ficasse fechado por longo tempo (pois se ele é patrimônio cultural não é somente por sua estrutura física, mas por tudo que representa e que nele representam), pois é um espaço importante na dinâmica cultural paraense, não acreditamos no seu fechamento por 2 anos (especialmente no fim de uma gestão) e optamos pelas intervenções emergenciais e pela construção de um plano de gerenciamento de riscos, para o qual veio inúmeras vezes Luis Pedersolli, técnicos do IPT entre outros especialistas e elaboramos vários momentos de formação e informação, onde a presença dos xilófagos nunca foi obscurecida.
Um dos danos contínuos no Theatro e especialmente em toda a região quente-e-úmida amazônica são os xilófagos, cuja ação já não era intensa quando o mesmo foi reaberto no fim de 2011. Com os dossiês, levantamentos e o plano de gestão de risco em andamento, não estavam solucionados, mas estavam sob controle, e as demais ações poderiam ser feitas sem a interrupção das atividades do Theatro. Desta forma foi entregue ano passado: com o zelo da gerente Dione Colares (que nos ligava a cada maçaneta torta!) e a consciência técnica da Leila, chefe da Diretoria de Projetos e responsável técnica pela obra em nome da SECULT.
Eleições estaduais, novo partido assume o Governo do Estado do Pará. O mesmo que esteve durante todas as gestões anteriores, a exceção do período de 2007 a 2010, com o mesmo secretário de cultura, Paulo Chaves Fernandes, fazendo da SECULT seu palanque e escritório para projetos que ignoravam (como continua a fazê-lo) a contribuição do corpo técnico da Secretaria, assumindo pra si os louros (nunca os ônus) das obras.
Além dos vários equívocos, vou destacar alguns: restauração é ação de exclusão, não é sinônimo de conservação e de adaptação física de um imóvel; é sempre recomendável a ação contínua e preventiva; qualquer intervenção deve levar à longevidade do bem em sua plenitude, inclusive de seu valor de uso. Isso não é novidade para ninguém que entende minimamente de como lidar com um bem à preservar; mas muitos querem tirar proveito do mérito dos outros, querendo ser mais que o bem cultural coletivo e atemporal, pretensiosamente crendo-se senhor de tudo, principalmente das verdades...
Quando lemos uma matéria oficial do governo do estado do Pará percebemos claramente isso: a arrogância e ignorância são tamanhas que insere na ação o que já havia sido feito (isso sem contar com a naturalidade de paraense ao maestro Carlos Gomes)!
Amigos patrimoniais, sabemos, sempre há muito a ser feito e constantemente, mas aqui no Pará, a prática da desconstrução supera em muito a da manutenção de qualquer coisa, inclusive dos bens e políticas culturais.

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