Celacanto, Perdigoto, Lerfá-mú e Gilson Pezinho

Quem não viveu no Rio de Janeiro nas décadas de 1970-80 não faz ideia do que seja o título desta postagem. Mas esta vai para os meus contemporâneos: aqueles que viveram a Cidade Maravilhosa e se encantou com o surgimento de cor, traço, poesia, filosofia, humor e posicionamento político à vista de qualquer um: o nascimento do graffiti.
Devemos algumas reverências. Celacanto provoca maremoto na zona sul, enquanto pés de giz traçam caminhos líricos nas zonas central e norte. A questão era que nem todos os que mergulharam nas águas ou seguiram pegadas o fizeram com a maturidade de seus precursores. Certo, alguém pode dizer "onde está maturidade em se apropriar de uma frase do Nationaro-kido [kidô!]?" e eu digo: viver no Rio de Janeiro nesta década e ter sido provocador e irônico não era coisa para qualquer um. Estabelecer uma linguagem visual, ter sido o precursor do propalado "viral" das novas mídias já seria digno de nota. O problema que os menininhos e menininhas da época se empolgaram em querer marcar os muros da cidade sem pensar sequer na referência ou o que dizer: o que poderia ter sido a semente de várias formas de expressão artísticas, tornou-se forração de paredes em pichações, tornando lixo estético não aceito desde a primeira hora. O discurso da desconstrução, do caos pelo caos (não me crucifique quem for mais inteligente que eu e conseguir ver mais que marcação de território, como cachorros que mijam pelo caminho).
Gentileza, alheio a tudo isso e a muito mais, ia pintando o seu livro-urbano...
Gilson "Pézinho" apropriava-se do não-lugar e dava-lhe significado com desenhos lineares, trovas que seguiam nossos caminhos, desde que eles passassem pelo Centro ou Tijuca: os tapumes das obras do Metrô, os arrimos do rio Maracanã e do canal do Mangue eram seus territórios. E como toda poesia se esvai, os traços leves e precisos eram feitos em giz, meros devaneios toltos...
Se Perdigoto defende Celacanto em briga com Lerfá-Mú ou se tudo isso se confundia com pseudo-mensagens subliminares de uma lendária invasão de comunistas ou alienígenas, o único fato é que o fato estético existiu e se mantém na memória dos que souberam apreciar.

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