Resgatando o passado

Quando falamos em buscar as referências de um passado, de um momento positivo para a cidade, temos várias respostas. O historiador, certamente buscará um momento importante, o recorte histórico. Há o velho vício de tentar buscar a referência-mater, a origem de tudo. Buscar, prospectar até a primeira e fundamental camada. Com isso perdemos camadas mais recentes, às vezes sem esse aspecto de Gênese, mas que foram tão ou mais importantes. Perdemos formações consistentes que se depositaram sobre o substrato da cidade.
Um grande 'parceiro de xadrez' João Cirilo Neto acabou de me indicar a leitura deste artigo sobre Belém. Não, não é um artigo recente, é de 2000. O artigo fala de uma cidade adormecida de um sono quase lendário de um século, como se Belém fosse uma princesa de contos de fadas, necessitando resgatar o romantismo intocado. Foi um momento de lutas de príncipes, faunos e titãs, alguns apaixonados por sua beleza, outros buscando a glória da conquista ou o reinado. Mas a verdade é que houveram batalhas e Belém se fez cada vez mais bela.
Mas, de volta à vida, a cidade voltou a envelhecer. E um envelhecimento doentio, um re-envelhecimento. Se fosse flor, talvez fosse sua opção cumprir seu ciclo natural na planta, mas lhe cortaram do pé, levaram-na à geladeira, alimentaram com hormônios nos vasos e ela sobrevive, sem viço, sem cheiro, desbotada, murchando seca. Tiraram a cidade da mão de príncipes que a queriam de fato, de alguma forma, e entregaram-na a um ogro que só quer fazê-la de escrava, alimentando monstros.

O que é a Belém de hoje? O que queremos desta cidade [ou o que ela quer de nós]? Como cuidamos dessa princesa-tia-velha-mal-amada?

Não sonho hoje em ver o fausto da Belle Époque, mas ficaria muito feliz se pudesse resgatar a Belém de uma década atrás.

Comentários

Unknown disse…
Grande parte dos moradores ignora a princesa entorpecida e por isso ela ficou pra titia.
Escrava do tempo, escrava da memória, da saudade, de sua forma esbelta e irresistível de outrora, da consagrada Paris n'America, cheia de pompa e "politesse"... sofredora devido às inovações do progresso de "cidade grande", ao descaso de sua gente, a salvo algumas poucas almas - tipo nós - que lutam pelo resgate do soldado ryan... =D
Linda a foto!

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